Advertência foi feita por Thomas Lovejoy, professor da George Mason University e um dos mais importantes especialistas em Amazônia do mundo
- A A +Redação
Agência Fapesp - 27/10/2011
A Amazônia está muito próxima de um ponto de não retorno para sua sobrevivência, devido a uma combinação de fatores que incluem aquecimento global, desflorestamento e queimadas que minam seu sistema hidrogeológico.
A advertência foi feita por Thomas Lovejoy, atualmente professor da George Mason University, no Estado de Virgínia, EUA, no primeiro dia do simpósio internacional Fapesp Week, em Washington, nesta segunda-feira.
O biólogo Lovejoy, um dos mais importantes especialistas em Amazônia do mundo, começou a trabalhar na floresta brasileira em 1965, "apenas três anos depois da fundação da Fapesp", lembrou.
Apesar de muita coisa positiva ter acontecido nestes 47 anos ("quando pisei pela primeira vez em Belém, só havia uma floresta nacional e uma área indígena demarcada e quase nenhum cientista brasileiro se interessava em estudar a Amazônia; hoje esse situação está totalmente invertida"), também apareceram no período diversos fatores de preocupação.
Lovejoy acredita que restam cinco anos para inverter as tendências em tempo de evitar problemas de maior gravidade. O aquecimento da temperatura média do planeta já está na casa de 0,8 grau centígrado. Ele acredita que o limite aceitável é de 2 graus centígrados e que ele pode ser alcançado até 2016 se nada for feito para efetivamente reduzi-lo.
O objetivo fixado nas mais recentes reuniões sobre o clima em Cancun e Copenhague de limitar o aumento médio da temperatura média global em 2 graus centígrados pode ser insuficiente, na opinião de Lovejoy, devido a essa conjugação de elementos.
De forma similar, Lovejoy crê que 20% de desflorestamento em relação ao tamanho original da Amazônia é o máximo que ela consegue suportar e o atual índice já é de 17% (em 1965, a taxa era de 3%).
A boa notícia, diz o biólogo, é que há bastante terra abandonada, sem nenhuma perspectiva de utilização econômica na Amazônia e que pode ser de alguma forma reflorestada, o que poderia proporcionar certa margem de segurança.
Em sua palestra, Lovejoy saudou vários cientistas brasileiros como exemplares em excelência em suas pesquisas. Entre outros, Eneas Salati, Carlos Nobre e Carlos Joly.
A Amazônia está muito próxima de um ponto de não retorno para sua sobrevivência, devido a uma combinação de fatores que incluem aquecimento global, desflorestamento e queimadas que minam seu sistema hidrogeológico.
A advertência foi feita por Thomas Lovejoy, atualmente professor da George Mason University, no Estado de Virgínia, EUA, no primeiro dia do simpósio internacional Fapesp Week, em Washington, nesta segunda-feira.
O biólogo Lovejoy, um dos mais importantes especialistas em Amazônia do mundo, começou a trabalhar na floresta brasileira em 1965, "apenas três anos depois da fundação da Fapesp", lembrou.
Apesar de muita coisa positiva ter acontecido nestes 47 anos ("quando pisei pela primeira vez em Belém, só havia uma floresta nacional e uma área indígena demarcada e quase nenhum cientista brasileiro se interessava em estudar a Amazônia; hoje esse situação está totalmente invertida"), também apareceram no período diversos fatores de preocupação.
Lovejoy acredita que restam cinco anos para inverter as tendências em tempo de evitar problemas de maior gravidade. O aquecimento da temperatura média do planeta já está na casa de 0,8 grau centígrado. Ele acredita que o limite aceitável é de 2 graus centígrados e que ele pode ser alcançado até 2016 se nada for feito para efetivamente reduzi-lo.
O objetivo fixado nas mais recentes reuniões sobre o clima em Cancun e Copenhague de limitar o aumento médio da temperatura média global em 2 graus centígrados pode ser insuficiente, na opinião de Lovejoy, devido a essa conjugação de elementos.
De forma similar, Lovejoy crê que 20% de desflorestamento em relação ao tamanho original da Amazônia é o máximo que ela consegue suportar e o atual índice já é de 17% (em 1965, a taxa era de 3%).
A boa notícia, diz o biólogo, é que há bastante terra abandonada, sem nenhuma perspectiva de utilização econômica na Amazônia e que pode ser de alguma forma reflorestada, o que poderia proporcionar certa margem de segurança.
Em sua palestra, Lovejoy saudou vários cientistas brasileiros como exemplares em excelência em suas pesquisas. Entre outros, Eneas Salati, Carlos Nobre e Carlos Joly.
domingo, 30 de outubro de 2011
Hidrelétricas no Madeira: quem ainda se interessa?
Lúcio Flávio Pinto
Em março deste ano, toda imprensa nacional – e também do exterior – se interessou intensamente pela hidrelétrica de Jirau, que está sendo construída no rio Madeira, no Estado de Rondônia, no extremo oeste do Brasil, Milhares de trabalhadores, de um total de 18 mil, se amotinaram e destruíram o acampamento.
A violência não teve paralelo na história dos “grandes projetos” na Amazônia. Nem se justificou por causas explícitas. Não havia um movimento reivindicatório associado à explosão de protesto. O acampamento foi reconstruído e um mês depois as obras foram retomadas, embora com atraso de cinco meses no cronograma. Não houve mais interesse por Jirau desde então.
Agora, sob silêncio quase total, três fatos ainda mais importantes se sucederam no mês passado em Jirau e na outra barragem do complexo hidrelétrico do Madeira. As águas começaram a ser represadas pela represa de Santo Antônio, no baixo curso do rio, no dia 15 de setembro. A partir daí começou a ser formado o reservatório da hidrelétrica, que alcançará, quando completamente cheio, área de 546 quilômetros quadrados.
Uma semana depois, a primeira das 44 turbinas da casa de força principal foi montada. Até o final do ano serão mais duas. Na segunda quinzena de dezembro Santo Antônio começará a gerar energia. Sua capacidade nominal instalada é de 3.850 megawatts.
No mesmo mês de setembro a água voltou a passar pelo leito natural do Madeira, depois de ter sido desviada por uma barragem de terra, para permitir a construção do vertedouro principal da usina de Jirau, que fica mais acima da de Santo Antônio. Em julho do próximo ano será a vez de começar o enchimento do reservatório de Jirau, que em outubro de 2012 colocará em operação a primeira das suas 55 turbinas, capazes de produzir 3.900 negawats de energia.
A falta de interesse da opinião pública por esses acontecimentos causa perplexidade e põe em xeque a dita relevância que a Amazônia tem para o país. É um contraste com o interesse, sobretudo dos grupos organizados da sociedade civil, pela construção de grandes hidrelétricas na região.
Toda atenção parece se concentrar – e se esgotar no momento – na hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. Enquanto a programação de Santo Antônio chegava ao ponto culminante e a de Jirau se lhe seguia, Belo Monte ainda se encontra numa polêmica fase de montagem do acampamento de obras. Não chegou a haver uma intervenção sobre o leito do rio porque a justiça local a proibiu. Permitiu apenas que continuem os serviços em suas margens, onde está sendo erguido o acampamento e as obras secundárias.
É provável que mesmo essa medida seja logo suspensa, conforme tem sido a rotina no ziguezague das decisões entre o juízo de primeiro grau e os tribunais superiores, mais propensos a atender os recursos do construtor contra os pedidos do Ministério Público Federal. O MPF do Pará já ajuizou 12 ações contra a continuidade de Belo Monte. Nenhum processo transitou em julgado.
A obra de Belo Monte pode ser considerada a terceira maior do país, depois de Itaipu, no Paraná, e Tucuruí, no Pará. Sua capacidade nominal supera a da usina do rio Tocantins. Mas não a sua energia média, que é muito baixa: apenas 40% do que a usina pode produzir serão disponíveis o ano inteiro, o menor índice entre todas as grandes hidrelétricas nacionais.
A razão: a enorme diferença de vazão do Xingu entre o inverno e o verão, quando não haverá água para movimentar nenhuma das suas 20 gigantescas turbinas. Com pequeno reservatório, Belo Monte será quase uma usina “a fio dágua”, funcionando com água corrente. Suas turbinas são as convencionais, que precisam de uma grande queda para que suas pesadíssimas engrenagens se movimentem.
As duas hidrelétricas do Madeira são completamente “a fio d’água”, com uma diferença fundamental: suas turbinas, tipo bulbo, funcionam na horizontal e não na vertical. Enquanto a queda em Belo Monte será de mais de 50 metros, em Santo Antônio e Jirau será de menos de 20 metros. Essa possibilidade se deve à vazão constante do rio Madeira, o que permitirá que a energia firme das duas usinas fique entre 60% e 70%.
Como os grandes rios da Amazônia são de planície, com baixa declividade natural, barragens de alta queda provocam a inundação de extensas áreas, com terrível dano ecológico e efeitos negativos sobre a geração de energia. Se o governo pretende continuar a extrair energia desses rios, como anuncia no Programa de Aceleração do Crescimento, as represas devem ser de baixa queda. Para que gerem mais energia, é preciso usar turbinas bulbo.
As quase 100 turbinas bulbo que serão instaladas nas casas de força de Jirau e Santo Antônio são as maiores do mundo. Além disso, nenhuma outra hidrelétrica teve tantas dessas máquinas como as duas usinas do Madeira, que é o 17º mais extenso rio do planeta e o 7º em volume de água. É também o principal afluente do maior de todos os rios da Terra, o Amazonas, e o que mais sedimentos deposita na sua calha, que lhe propicia a maior descarga sólida de todas as bacias hidrográficas no mar. E é o terceiro maior rio brasileiro.
Essas dimensões e as características originais dos
empreendimentos hidrelétricos nele em implantação deviam atrair para a região o alegado interesse nacional pela Amazônia. O silêncio mantido enquanto as obras chegam ao marco da sua realização, já sem possibilidade de retorno, talvez confirme o que se costuma suspeitar: que os cuidados com a Amazônia são mais para impressionar inglês desatento.
Nem mesmo quando foi divulgada uma carta dirigida ao Ministério das Minas e Energia pela Energia Sustentável, o consórcio que constrói Jirau, contra os empreendedores de Santo Antônio. O conflito entre as duas empresas surgiu quando foi decidida a elevação da cota operacional do reservatório de Santo Antônio em quase um metro. Parecia que o problema era apenas uma disputa por geração extra de energia (mais de 206 megawatts de energia firme), proporcionada por mais água na represa de jusante, que a de montante não podia aproveitar. Jirau pretendia adicionar mais 90 MW à sua potência nominal. Com a alteração, o acréscimo só poderia ser de aproximadamente 60 MW
No ofício, os sócios de Jirau garantem que, “além do desrespeito ao contrato de concessão, a elevação da usina a jusante para a cota 71,3 m representa, ainda, graves riscos estruturais à UHE Jirau, que passará a não atender aos índices mínimos de segurança para sua operação". A maior altura “comprometeria a segurança física das estruturas das casas de força e vertedouro de uma das maiores barragens do país, podendo acarretar um acidente sem precedentes, com severos impactos sociais, ambientais e financeiros", diz ainda o documento. Os riscos acarretados pela mudança do projeto de Santo Antônio seriam tão graves que impediram o aval técnico do consultor da obra à infraestrutura de Jirau, por falta da segurança adequada.
Ouvido pelo jornal Valor, de São Paulo, um representante do consórcio Santo Antônio (Furnas, Eletronorte, Odebrecht, Andrade Gutierrez) disse que as alegações dos donos de Jirau são “infundadas” e as questões técnicas já teriam sido respondidas. “Ninguém aqui seria irresponsável de propor algo que pusesse alguém em risco”, assegurou.
Criou-se, assim, uma situação inédita na história da construção de hidrelétricas no Brasil, pondo em oposição os construtores de usinas em pontos diferentes do mesmo rio. Esse tipo de desentendimento só havia sido registrado entre países com partes de uma mesma bacia. A iniciativa de Jirau talvez se explique pelo fato de que o controle acionário do concessionário dessa usina esteja em poder da GDF Suez, grupo francês que detém 50,1% das ações (os outros grandes acionistas são a Eletrosul (20%) e Chesf (20%).
Tinha que ser na Amazônia. Por isso, não ecoou como devia.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
O padroeiro dos pecadores.
O padroeiro dos pecadores, o chefe dos mensaleiros e o doutor em absolvição de culpados querem uma toga de confiança. (Augusto Nunes)
Despejado da Casa Civil que aviltou, expulso de uma Câmara dos Deputados que absolve até Jaqueline Roriz, duas vezes denunciado pela Procuradoria Geral da República por chefiar o bando envolvido na roubalheira do mensalão, José Dirceu aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha e corrupção ativa. Se as instituições fossem mais musculosas, o atropelador compulsivo de códigos legais, valores morais e normas éticas estaria usando a voz exclusivamente para explicar-se em delegacias e tribunais. Como a idade política do Brasil recuou para perto do tempo das cavernas, Dirceu dá palpite em tudo. Sente-se tão à vontade que, sempre mirando nos próprios interesses, deu de socorrer colegas de bandidagens fantasiado de defensor do Estado de Direito. Haja cinismo.
“Considero corretíssima a posição da presidenta Dilma e de seu governo de não fazer pré-julgamento, linchamento, e respeitar rigorosamente a presunção da inocência do ministro Orlando Silva e que o ônus da prova é de responsabilidade exclusiva do acusador”, voltou a torturar a língua portuguesa nesta terça-feira. “Se não nos mantivermos nessa linha, estaremos quebrando os princípios mais elementares de um Estado Democrático de Direito”. De costas para a perplexidade da plateia, o canastrão caprichou na pose de inocente e foi em frente: “Infelizmente, existe no país uma corrente muito grande, particularmente na mídia, que tem insistido nesse caminho do pré-julgamento, do linchamento… Eu sou uma vítima e exemplo claro disso”. Haja estômago.
O Estado Democrático de Direito e José Dirceu não nasceram um para o outro, berra o prontuário do declarante. Um celebra a liberdade irrestrita de imprensa. Outro sonha com o “controle social da mídia”. Um se subordina ao império da lei. Outro sonha com a condenação à perpétua impunidade. O Estado de Direito estabelece a separação e a independência dos Poderes. O guerrilheiro de festim, no momento, manobra para instalar uma toga de confiança na vaga aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria da ministra Ellen Gracie. Foi esse, por sinal, o tema da reunião que no fim de setembro juntou em Paris os companheiros José Dirceu, Márcio Thomaz Bastos e Lula.
O encontro da trindade nada santa teria sido secreto se Dirceu não fosse uma usina de ideias de jerico: 43 anos depois de ter inventado o congresso clandestino com esconderijo conhecido, nosso Steve Jobs de chanchada resolveu inventar a conversa sigilosa agendada em público. O primeiro espanto ocorreu em outubro de 1968, quando juntou num sítio em Ibiúna, com menos de 10 mil habitantes, os mais de 1.200 participantes do congresso a UNE. Foram todos parar na cadeia. O segundo assombro consumou-se no meio da tarde de 27 de setembro, quando o padroeiro dos pecadores, o chefe dos mensaleiros e o doutor em absolvição de culpados se reuniram num apartamento do Hotel Lutetia. A trinca só não foi parar nas primeiras páginas porque os jornalistas andam meio distraídos.
A quebra de sigilo ocorreu na noite de 22 de setembro, durante uma palestra de Dirceu no auditório da Força Sindical, em São Paulo. Ao sentir a vibração do celular, o artista interrompeu o monólogo, identificou no visor a origem da chamada, abriu um sorriso de notícia boa, comunicou à plateia que a coisa era urgente, levantou-se da mesa e desapareceu nas coxias. Reapareceu quatro minutos depois ainda mais risonho e, antes de retomar o palavrório, resolveu matar de inveja os espectadores:
─ É que eu estou acertando a agenda com o nosso Luiz Inácio Lula da Silva ─ gabou-se. ─ Ele está viajando, está indo para a Europa, e eu vou encontrar com ele.
Sem saber da inconfidência, Lula decolou na noite seguinte, fez uma escala nos Estados Unidos e, em 25 de setembro, instalou-se no cenário da conversa que deveria ser sigilosa. A ideia do encontro na França nasceu quando o Instituto de Estudos Políticos marcou para 27 de setembro a cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente. Como o julgamento do mensalão vem aí, os três acharam que deveriam tratar com urgência do preenchimento da vaga no STF. Ficou combinado que os ex-ministros viajariam para França ─ em datas diferentes e por distintos motivos, para não dar na vista. Horas antes da festa, iriam ao encontro do chefe no hotel onde ficaria quatro dias hospedado.
Em 16 de setembro, depois de avisar no escritório que precisava descansar, o jurista que advoga até quando dorme embarcou com a mulher, num avião de carreira, “para duas semanas de férias”. O casal ficou alojado no Hotel George Sand (modestíssimo, se comparado ao Lutetia, que cobra diárias de até R$ 12 mil). Dirceu, que só lida com processos como réu, disse aos amigos que decolaria rumo a Paris “por causa de alguns compromissos como advogado”. Negou-se a revelar os nomes dos clientes e do hotel em que dormiria. Também não esclareceu se voaria em avião de carreira ou em jatinho fretado. Só conta que voltou ao Brasil no dia 28, quando Lula seguiu para a Polônia.
Durante a festa de doutorado, os três fingiram que era o primeiro encontro em Paris. Esqueceram de combinar com um jornalista que, à tarde, viu Márcio e Dirceu chegando ao Lutetia com a discrição de um espião paraguaio. Durante a conversa, Dirceu procurou convencer os parceiros de que a melhor candidata à toga momentaneamente sem dona é Maria Elizabeth Rocha, ministra do Superior Tribunal Militar. Amiga do ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT e ex-chefe da Advocacia Geral da União, Maria Elizabeth trabalhou entre 2003 e 2007 na subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
Antes de ser indicada por Lula para o STM, portanto, passou cinco anos subordinada a José Dirceu e, depois, a Dilma Rousseff. Estava na Casa Civil quando explodiu o escândalo do mensalão. Essa anotação no currículo coloca sob suspeição a eventual julgadora de um caso cujo desfecho pode tirar o sossego de Dilma e o sono de Dirceu. A trinca da reunião em Paris luta para impedir que se faça justiça. Se Ellen Gracie for substituída pela candidata preferida dos mensaleiros, os conspiradores trapalhões terão conseguido desmoralizar de vez o Supremo Tribunal Federal.
Despejado da Casa Civil que aviltou, expulso de uma Câmara dos Deputados que absolve até Jaqueline Roriz, duas vezes denunciado pela Procuradoria Geral da República por chefiar o bando envolvido na roubalheira do mensalão, José Dirceu aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha e corrupção ativa. Se as instituições fossem mais musculosas, o atropelador compulsivo de códigos legais, valores morais e normas éticas estaria usando a voz exclusivamente para explicar-se em delegacias e tribunais. Como a idade política do Brasil recuou para perto do tempo das cavernas, Dirceu dá palpite em tudo. Sente-se tão à vontade que, sempre mirando nos próprios interesses, deu de socorrer colegas de bandidagens fantasiado de defensor do Estado de Direito. Haja cinismo.
“Considero corretíssima a posição da presidenta Dilma e de seu governo de não fazer pré-julgamento, linchamento, e respeitar rigorosamente a presunção da inocência do ministro Orlando Silva e que o ônus da prova é de responsabilidade exclusiva do acusador”, voltou a torturar a língua portuguesa nesta terça-feira. “Se não nos mantivermos nessa linha, estaremos quebrando os princípios mais elementares de um Estado Democrático de Direito”. De costas para a perplexidade da plateia, o canastrão caprichou na pose de inocente e foi em frente: “Infelizmente, existe no país uma corrente muito grande, particularmente na mídia, que tem insistido nesse caminho do pré-julgamento, do linchamento… Eu sou uma vítima e exemplo claro disso”. Haja estômago.
O Estado Democrático de Direito e José Dirceu não nasceram um para o outro, berra o prontuário do declarante. Um celebra a liberdade irrestrita de imprensa. Outro sonha com o “controle social da mídia”. Um se subordina ao império da lei. Outro sonha com a condenação à perpétua impunidade. O Estado de Direito estabelece a separação e a independência dos Poderes. O guerrilheiro de festim, no momento, manobra para instalar uma toga de confiança na vaga aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria da ministra Ellen Gracie. Foi esse, por sinal, o tema da reunião que no fim de setembro juntou em Paris os companheiros José Dirceu, Márcio Thomaz Bastos e Lula.
O encontro da trindade nada santa teria sido secreto se Dirceu não fosse uma usina de ideias de jerico: 43 anos depois de ter inventado o congresso clandestino com esconderijo conhecido, nosso Steve Jobs de chanchada resolveu inventar a conversa sigilosa agendada em público. O primeiro espanto ocorreu em outubro de 1968, quando juntou num sítio em Ibiúna, com menos de 10 mil habitantes, os mais de 1.200 participantes do congresso a UNE. Foram todos parar na cadeia. O segundo assombro consumou-se no meio da tarde de 27 de setembro, quando o padroeiro dos pecadores, o chefe dos mensaleiros e o doutor em absolvição de culpados se reuniram num apartamento do Hotel Lutetia. A trinca só não foi parar nas primeiras páginas porque os jornalistas andam meio distraídos.
A quebra de sigilo ocorreu na noite de 22 de setembro, durante uma palestra de Dirceu no auditório da Força Sindical, em São Paulo. Ao sentir a vibração do celular, o artista interrompeu o monólogo, identificou no visor a origem da chamada, abriu um sorriso de notícia boa, comunicou à plateia que a coisa era urgente, levantou-se da mesa e desapareceu nas coxias. Reapareceu quatro minutos depois ainda mais risonho e, antes de retomar o palavrório, resolveu matar de inveja os espectadores:
─ É que eu estou acertando a agenda com o nosso Luiz Inácio Lula da Silva ─ gabou-se. ─ Ele está viajando, está indo para a Europa, e eu vou encontrar com ele.
Sem saber da inconfidência, Lula decolou na noite seguinte, fez uma escala nos Estados Unidos e, em 25 de setembro, instalou-se no cenário da conversa que deveria ser sigilosa. A ideia do encontro na França nasceu quando o Instituto de Estudos Políticos marcou para 27 de setembro a cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente. Como o julgamento do mensalão vem aí, os três acharam que deveriam tratar com urgência do preenchimento da vaga no STF. Ficou combinado que os ex-ministros viajariam para França ─ em datas diferentes e por distintos motivos, para não dar na vista. Horas antes da festa, iriam ao encontro do chefe no hotel onde ficaria quatro dias hospedado.
Em 16 de setembro, depois de avisar no escritório que precisava descansar, o jurista que advoga até quando dorme embarcou com a mulher, num avião de carreira, “para duas semanas de férias”. O casal ficou alojado no Hotel George Sand (modestíssimo, se comparado ao Lutetia, que cobra diárias de até R$ 12 mil). Dirceu, que só lida com processos como réu, disse aos amigos que decolaria rumo a Paris “por causa de alguns compromissos como advogado”. Negou-se a revelar os nomes dos clientes e do hotel em que dormiria. Também não esclareceu se voaria em avião de carreira ou em jatinho fretado. Só conta que voltou ao Brasil no dia 28, quando Lula seguiu para a Polônia.
Durante a festa de doutorado, os três fingiram que era o primeiro encontro em Paris. Esqueceram de combinar com um jornalista que, à tarde, viu Márcio e Dirceu chegando ao Lutetia com a discrição de um espião paraguaio. Durante a conversa, Dirceu procurou convencer os parceiros de que a melhor candidata à toga momentaneamente sem dona é Maria Elizabeth Rocha, ministra do Superior Tribunal Militar. Amiga do ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT e ex-chefe da Advocacia Geral da União, Maria Elizabeth trabalhou entre 2003 e 2007 na subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
Antes de ser indicada por Lula para o STM, portanto, passou cinco anos subordinada a José Dirceu e, depois, a Dilma Rousseff. Estava na Casa Civil quando explodiu o escândalo do mensalão. Essa anotação no currículo coloca sob suspeição a eventual julgadora de um caso cujo desfecho pode tirar o sossego de Dilma e o sono de Dirceu. A trinca da reunião em Paris luta para impedir que se faça justiça. Se Ellen Gracie for substituída pela candidata preferida dos mensaleiros, os conspiradores trapalhões terão conseguido desmoralizar de vez o Supremo Tribunal Federal.
Flamenguista gosta do Flamengo.
O FLAMENGUISTA gosta do FLAMENGO e ponto! Quem gosta de título é cartório. Quem gosta de vitória é capixaba. Quem se preocupa com gol é a Volkswagen. Quem se preocupa com o craque é polícia e bandido. Quem se importa com divisão é matemático. Viva a nação mais apaixonada do mundo! Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossas vidas. Quem é flamenguista curte e quem não é FLAMENGO SENTA E CHORA.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
UTILIDADE PUBLICA
SAMU INFORMA: UTILIDADE PÚBLICA IMPORTANTE
As ambulâncias e emergências médicas perceberam que muitas vezes nos acidentes da estrada os feridos têm um celular consigo. No entanto, na hora de intervir com estes doentes, não sabem qual a pessoa a contatar na longa lista de telefones existentes no celular do acidentado.
Para tal, o SAMU lança a idéia de que todas as pessoas acrescentem na sua longa lista de contatos o NUMERO DA PESSOA a contatar em caso de emergência. Tal deverá ser feito da seguinte forma: 'AA Emergencia' (as letras AA são para que apareça sempre este contato em primeiro lugar na lista de contatos).
É simples, não custa nada e pode ajudar muito ao SAMU ou quem nos acuda. Se lhe parecer correta a proposta que lhe fazemos, passe esta mensagem a todos os seus amigos, familiares e conhecidos..
É tão-somente mais um dado que registramos no nosso celular e que pode ser a nossa salvação. Por favor, não destrua esta mensagem! Reenvie-o a quem possa dar-lhe uma boa utilidade.
SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Repassem. Afinal, trata-se de uma informação de muita utilidade)
As ambulâncias e emergências médicas perceberam que muitas vezes nos acidentes da estrada os feridos têm um celular consigo. No entanto, na hora de intervir com estes doentes, não sabem qual a pessoa a contatar na longa lista de telefones existentes no celular do acidentado.
Para tal, o SAMU lança a idéia de que todas as pessoas acrescentem na sua longa lista de contatos o NUMERO DA PESSOA a contatar em caso de emergência. Tal deverá ser feito da seguinte forma: 'AA Emergencia' (as letras AA são para que apareça sempre este contato em primeiro lugar na lista de contatos).
É simples, não custa nada e pode ajudar muito ao SAMU ou quem nos acuda. Se lhe parecer correta a proposta que lhe fazemos, passe esta mensagem a todos os seus amigos, familiares e conhecidos..
É tão-somente mais um dado que registramos no nosso celular e que pode ser a nossa salvação. Por favor, não destrua esta mensagem! Reenvie-o a quem possa dar-lhe uma boa utilidade.
SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Repassem. Afinal, trata-se de uma informação de muita utilidade)
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
TORRADAS QUEIMADAS!.
Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.
Naquela noite, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.
Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.
Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada.
E eu nunca esquecerei o que ele disse:
" - Adorei a torrada queimada..."
Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.
Ele me envolveu em seus braços e me disse:
" - Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro, talvez nem o melhor pai, mesmo que tente todos os dias!"
O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.
Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos, os dois, a suprir um as falhas do outro. Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma panela de alumínio brilhando.
Ela não sabe usar a furadeira, mas após minhas reformas, ela faz tudo ficar cheiroso, de tão limpo. Eu não sei fazer uma lasanha como ela, mas ela não sabe assar uma carne como eu. Eu nunca soube fazer você dormir, mas comigo você tomava banho rápido, sem reclamar.
A soma de nós dois monta o mundo que você recebeu e que te apoia, eu e ela nos completamos. Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto temos os dois presentes. Não que mais tarde, o dia que um partir, este mundo vá desmoronar, não vai. Novamente teremos que aprender e nos adaptar para fazer o melhor.
De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.
Entao filho, se esforce para ser sempre tolerante, principalmente com quem dedica o precioso tempo da vida, à você e ao próximo.
"As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir."
Naquela noite, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.
Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.
Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada.
E eu nunca esquecerei o que ele disse:
" - Adorei a torrada queimada..."
Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.
Ele me envolveu em seus braços e me disse:
" - Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro, talvez nem o melhor pai, mesmo que tente todos os dias!"
O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.
Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos, os dois, a suprir um as falhas do outro. Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma panela de alumínio brilhando.
Ela não sabe usar a furadeira, mas após minhas reformas, ela faz tudo ficar cheiroso, de tão limpo. Eu não sei fazer uma lasanha como ela, mas ela não sabe assar uma carne como eu. Eu nunca soube fazer você dormir, mas comigo você tomava banho rápido, sem reclamar.
A soma de nós dois monta o mundo que você recebeu e que te apoia, eu e ela nos completamos. Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto temos os dois presentes. Não que mais tarde, o dia que um partir, este mundo vá desmoronar, não vai. Novamente teremos que aprender e nos adaptar para fazer o melhor.
De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.
Entao filho, se esforce para ser sempre tolerante, principalmente com quem dedica o precioso tempo da vida, à você e ao próximo.
"As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir."
TAPAJÓS E CARAJÁS: FURTO, FURTEI, FURTAREI.
José Ribamar Bessa Freire
09/10/2011 - Diário do Amazonas
Essa foi a vaia mais estrondosa e demorada de toda a história da Amazônia. Começou no dia 4 de abril de 1654, em São Luís do Maranhão, com a conjugação do verbo furtar, e continuou ressoando em Belém, num auditório da Universidade Federal do Pará, na última quinta-feira, 6 de outubro, quando estudantes hostilizaram dois deputados federais que defendiam a criação dos Estados de Tapajós e Carajás.
A vaia, que atravessou os séculos, só será interrompida no dia 11 de dezembro próximo, quando quase 5 milhões de eleitores paraenses irão às urnas para votar, num plebiscito, se querem ou não a criação dos dois Estados desmembrados do Pará, que ficará reduzido a apenas 17% de seu atual território caso a resposta dos eleitores seja afirmativa.
A proposta de divisão territorial não é nova. Embora o fato não seja ensinado nas escolas, o certo é que Portugal manteve dois estados na América: o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão e Grão-Pará, cada um com governador próprio, leis próprias e seu corpo de funcionários. Somente um ano depois da Independência do Brasil, em agosto de 1823, é que o Grão-Pará aderiu ao estado independente, com ele se unificando.
Pois bem, no século XVII, a proposta era criar mais estados. Os colonos começaram a pressionar o rei de Portugal, D. João IV, para que as capitanias da região norte fossem transformadas em entidades autônomas. O padre Antônio Vieira, conselheiro do rei de Portugal, D. João IV, convenceu o monarca a fazer exatamente o contrário, criando um governo único do Estado do Maranhão e Grão-Pará sediado inicialmente em São Luís e depois em Belém.
Para isso, o missionário jesuíta usou um argumento singular. Ele alegava que se o rei criasse outros estados na Amazônia, teria que nomear mais governadores, o que dificultaria o controle sobre eles. É mais fácil vigiar um ladrão do que dois, escreveu Vieira em carta ao rei, de 4 de abril de 1654: “Digo, senhor, que menos mal será um ladrão que dois, e que mais dificultoso será de achar dois homens de bem que um só”.
Num sermão que pregou na sexta-feira santa, já em Lisboa, perante um auditório onde estavam membros da corte, juízes, ministros e conselheiros da Coroa, o padre Vieira, recém-chegado do Maranhão, acusou os governadores, nomeados por três anos, de enriquecerem durante o triênio, juntamente com seus amigos e apaniguados, dizendo que eles conjugavam o verbo furtar em todos os tempos, modos e pessoas. Vale a pena transcrever um trecho do seu sermão:
- “Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Esses mesmos modos conjugam por todas as pessoas: porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados, e as terceiras quantos para isso têm indústria e consciência”.
Segundo Vieira, os governadores ”furtam juntamente por todos os tempos”. Roubam no tempo presente, “que é o seu tempo” durante o triênio em que governam, e roubam ainda ”no pretérito e no futuro”. Roubam no passado perdoando dívidas antigas com o Estado em troca de propinas, “vendendo perdões” e roubam no futuro quando “empenham as rendas e antecipam os contrato, com que tudo, o caído e não caído, lhe vem a cair nas mãos”.
O missionário jesuíta, conselheiro e confessor do rei, prosseguiu:
“Finalmente, nos mesmos tempos não lhe escapam os imperfeitos, perfeitos, mais-que-perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais se mais houvesse. Em suma, que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles como se tiveram feito grandes serviços tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas”.
Numa atitude audaciosa, padre Vieira chama o próprio rei às suas responsabilidades, concluindo:
“Em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que? São companheiros dos ladrões, porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões, porque os consentem; são companheiros dos ladrões, porque lhes dão os postos e os poderes; são companheiros dos ladrões, porque talvez os defendem; e são finalmente, seus companheiros, porque os acompanham e hão de acompanhar ao inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo”.
Os dois novos Estados – Carajás e Tapajós – se criados, significam mais governadores, mais deputados, mais juizes, mais tribunais de contas, mais mordomias, mais assaltos aos cofres públicos. Por isso, o Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns, sediado em Santarém, representando 13 povos de 52 aldeias, se pronunciou criticamente em relação à proposta. Em nota oficial, esclarece:
“Os indígenas, os quilombolas e os trabalhadores da região nunca estiveram na frente do movimento pela criação do Estado do Tapajós, porque essa não era sua reivindicação e também porque não eram convidados. Esse movimento foi iniciado e liderado nos últimos anos por políticos. E nós temos aprendido que o que é bom para essa gente dificilmente é bom para nós”.
09/10/2011 - Diário do Amazonas
Essa foi a vaia mais estrondosa e demorada de toda a história da Amazônia. Começou no dia 4 de abril de 1654, em São Luís do Maranhão, com a conjugação do verbo furtar, e continuou ressoando em Belém, num auditório da Universidade Federal do Pará, na última quinta-feira, 6 de outubro, quando estudantes hostilizaram dois deputados federais que defendiam a criação dos Estados de Tapajós e Carajás.
A vaia, que atravessou os séculos, só será interrompida no dia 11 de dezembro próximo, quando quase 5 milhões de eleitores paraenses irão às urnas para votar, num plebiscito, se querem ou não a criação dos dois Estados desmembrados do Pará, que ficará reduzido a apenas 17% de seu atual território caso a resposta dos eleitores seja afirmativa.
A proposta de divisão territorial não é nova. Embora o fato não seja ensinado nas escolas, o certo é que Portugal manteve dois estados na América: o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão e Grão-Pará, cada um com governador próprio, leis próprias e seu corpo de funcionários. Somente um ano depois da Independência do Brasil, em agosto de 1823, é que o Grão-Pará aderiu ao estado independente, com ele se unificando.
Pois bem, no século XVII, a proposta era criar mais estados. Os colonos começaram a pressionar o rei de Portugal, D. João IV, para que as capitanias da região norte fossem transformadas em entidades autônomas. O padre Antônio Vieira, conselheiro do rei de Portugal, D. João IV, convenceu o monarca a fazer exatamente o contrário, criando um governo único do Estado do Maranhão e Grão-Pará sediado inicialmente em São Luís e depois em Belém.
Para isso, o missionário jesuíta usou um argumento singular. Ele alegava que se o rei criasse outros estados na Amazônia, teria que nomear mais governadores, o que dificultaria o controle sobre eles. É mais fácil vigiar um ladrão do que dois, escreveu Vieira em carta ao rei, de 4 de abril de 1654: “Digo, senhor, que menos mal será um ladrão que dois, e que mais dificultoso será de achar dois homens de bem que um só”.
Num sermão que pregou na sexta-feira santa, já em Lisboa, perante um auditório onde estavam membros da corte, juízes, ministros e conselheiros da Coroa, o padre Vieira, recém-chegado do Maranhão, acusou os governadores, nomeados por três anos, de enriquecerem durante o triênio, juntamente com seus amigos e apaniguados, dizendo que eles conjugavam o verbo furtar em todos os tempos, modos e pessoas. Vale a pena transcrever um trecho do seu sermão:
- “Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Esses mesmos modos conjugam por todas as pessoas: porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados, e as terceiras quantos para isso têm indústria e consciência”.
Segundo Vieira, os governadores ”furtam juntamente por todos os tempos”. Roubam no tempo presente, “que é o seu tempo” durante o triênio em que governam, e roubam ainda ”no pretérito e no futuro”. Roubam no passado perdoando dívidas antigas com o Estado em troca de propinas, “vendendo perdões” e roubam no futuro quando “empenham as rendas e antecipam os contrato, com que tudo, o caído e não caído, lhe vem a cair nas mãos”.
O missionário jesuíta, conselheiro e confessor do rei, prosseguiu:
“Finalmente, nos mesmos tempos não lhe escapam os imperfeitos, perfeitos, mais-que-perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais se mais houvesse. Em suma, que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles como se tiveram feito grandes serviços tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas”.
Numa atitude audaciosa, padre Vieira chama o próprio rei às suas responsabilidades, concluindo:
“Em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que? São companheiros dos ladrões, porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões, porque os consentem; são companheiros dos ladrões, porque lhes dão os postos e os poderes; são companheiros dos ladrões, porque talvez os defendem; e são finalmente, seus companheiros, porque os acompanham e hão de acompanhar ao inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo”.
Os dois novos Estados – Carajás e Tapajós – se criados, significam mais governadores, mais deputados, mais juizes, mais tribunais de contas, mais mordomias, mais assaltos aos cofres públicos. Por isso, o Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns, sediado em Santarém, representando 13 povos de 52 aldeias, se pronunciou criticamente em relação à proposta. Em nota oficial, esclarece:
“Os indígenas, os quilombolas e os trabalhadores da região nunca estiveram na frente do movimento pela criação do Estado do Tapajós, porque essa não era sua reivindicação e também porque não eram convidados. Esse movimento foi iniciado e liderado nos últimos anos por políticos. E nós temos aprendido que o que é bom para essa gente dificilmente é bom para nós”.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
O CARPINTEIRO
Contam que na carpintaria houve uma vez uma estranha assembléia. Foi
uma reunião de ferramentas para acertar as suas diferenças.
Um martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram
que teria que renunciar. A causa: fazia demasiadamente barulho e além
do mais, passava todo o tempo golpeando. O martelo reconheceu a sua
culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso. dizendo que ele
dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque o parafuso
concordou mas por sua vez pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era
muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atritos.
A lixa acatou com a condição de que se expulsasse o metro que sempre
media os outros segundo a sua medida, como se forra o único perfeito.
Nesse momento entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu
trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o parafuso. Finalmente
a rústica madeira tomou formas e se converteu num fino móvel.
Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembléia reativou a
discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:
-"Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro
trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não
pensemos em nossos pontos negativos e concentremo-nos só nos
positivos."
A assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava
força, a lixa era especial para limar e afinar aspereza e o metro era
preciso e exato. Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir
móveis de qualidade. Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar
juntos. Ocorre o mesmo com os seres humanos. Basta observar e
comprovar.
Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e
negativa; ao contrário, quando se busca com sinceridade os pontos
positivos dos outros, florescem as melhores conquistas humanas. É
fácil encontrar defeitos, qualquer um pode vê-los, mas, encontrar
qualidades...
(autor desconhecido)
uma reunião de ferramentas para acertar as suas diferenças.
Um martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram
que teria que renunciar. A causa: fazia demasiadamente barulho e além
do mais, passava todo o tempo golpeando. O martelo reconheceu a sua
culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso. dizendo que ele
dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque o parafuso
concordou mas por sua vez pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era
muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atritos.
A lixa acatou com a condição de que se expulsasse o metro que sempre
media os outros segundo a sua medida, como se forra o único perfeito.
Nesse momento entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu
trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o parafuso. Finalmente
a rústica madeira tomou formas e se converteu num fino móvel.
Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembléia reativou a
discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:
-"Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro
trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não
pensemos em nossos pontos negativos e concentremo-nos só nos
positivos."
A assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava
força, a lixa era especial para limar e afinar aspereza e o metro era
preciso e exato. Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir
móveis de qualidade. Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar
juntos. Ocorre o mesmo com os seres humanos. Basta observar e
comprovar.
Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e
negativa; ao contrário, quando se busca com sinceridade os pontos
positivos dos outros, florescem as melhores conquistas humanas. É
fácil encontrar defeitos, qualquer um pode vê-los, mas, encontrar
qualidades...
(autor desconhecido)
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
O porão dos fracassos insepultos
Por Augusto Nunes
Sempre lançados com pompas, fitas e discurseira, sempre atribuídos ao brilho incomparável do inventor do Brasil Maravilha, programas e projetos federais nunca morrem oficialmente. Nunca ─ nem mesmo quando viram cadáveres em adiantado estado de decomposição. É o caso do Fome Zero, do Primeiro Emprego, do PAC da Copa, do PAC da Olimpíada, do Segundo Tempo ou do terceiro aeroporto de São Paulo. Morreram de inépcia, de corrupção, de inoperância, de politicagem, ou da soma dessas moléstias tropicais. Mas permanecem no porão dos fracassos insepultos, para que os brasileiros que pagam todas as contas não enxerguem os naufrágios que financiaram.
Na edição desta terça-feira, uma reportagem do Globo comprovou que a coleção de mortos-vivos foi ampliada pelo ProJovem. Nascido em 2007, o programa foi apresentado pelo presidente Lula ─ escoltado pelos ministros Fernando Haddad, Carlos Lupi e, claro, Dilma Rousseff ─ como a salvação dos moços à procura de escola e emprego. Passados quatro anos, o Tribunal de Contas da União fez um balanço do desastre retumbante. Ainda incompleto, é desoladoramente repulsivo. Variadas formas de ladroagem engoliram a maior parte da verba de R$ 3 bilhões. O número de jovens atendidos é insuficiente para eleger um deputado em Roraima. Em vez de providenciar-lhe um enterro cristão, o governo promete ressuscitar o morto em 2012. Com injeções de dinheiro, naturalmente.
Os corruptos não perdem o apetite, confirma o texto reproduzido na seção Feira Livre. Os brasileiros honestos é que precisam perder a paciência com a impunidade dos ladrões.
Sempre lançados com pompas, fitas e discurseira, sempre atribuídos ao brilho incomparável do inventor do Brasil Maravilha, programas e projetos federais nunca morrem oficialmente. Nunca ─ nem mesmo quando viram cadáveres em adiantado estado de decomposição. É o caso do Fome Zero, do Primeiro Emprego, do PAC da Copa, do PAC da Olimpíada, do Segundo Tempo ou do terceiro aeroporto de São Paulo. Morreram de inépcia, de corrupção, de inoperância, de politicagem, ou da soma dessas moléstias tropicais. Mas permanecem no porão dos fracassos insepultos, para que os brasileiros que pagam todas as contas não enxerguem os naufrágios que financiaram.
Na edição desta terça-feira, uma reportagem do Globo comprovou que a coleção de mortos-vivos foi ampliada pelo ProJovem. Nascido em 2007, o programa foi apresentado pelo presidente Lula ─ escoltado pelos ministros Fernando Haddad, Carlos Lupi e, claro, Dilma Rousseff ─ como a salvação dos moços à procura de escola e emprego. Passados quatro anos, o Tribunal de Contas da União fez um balanço do desastre retumbante. Ainda incompleto, é desoladoramente repulsivo. Variadas formas de ladroagem engoliram a maior parte da verba de R$ 3 bilhões. O número de jovens atendidos é insuficiente para eleger um deputado em Roraima. Em vez de providenciar-lhe um enterro cristão, o governo promete ressuscitar o morto em 2012. Com injeções de dinheiro, naturalmente.
Os corruptos não perdem o apetite, confirma o texto reproduzido na seção Feira Livre. Os brasileiros honestos é que precisam perder a paciência com a impunidade dos ladrões.
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