Entrevista publicada em “O Estado de São Paulo”, em 22.08.10.
Além de inundar o mercado com seus produtos, a China está comprando muitos ativos no Brasil. Isso incomoda os empresários?
A China investiu muito em títulos do Tesouro americano e agora busca desesperadamente trocar parte desses papéis por ativos. Começou pela África, onde comprou tudo que podia e agora está comprando na América Latina, inclusive no Brasil. O capital chinês de médio e longo prazos para investimento é muito bem-vindo. Mas é preciso cuidar de setores estratégicos.
Quais seriam esses setores?
Por exemplo, a China comprar reservas de minério no Brasil, sendo ela o principal cliente do País, precisa ser considerado de forma diferente. A China é uma força no mundo. A partir do momento que ela tenha o domínio sobre a matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, ela pode tirar os outros do jogo. Dependendo do preço de transferência que adote, quebra com todo mundo. Setores estratégicos têm de ter algum controle do governo. É preciso dizer aquilo que pode e aquilo que não pode ser comprado por capital estrangeiro.
O sr. está falando em restringir a compra de terras ou minas?
Eu restringiria. Se for uma coisa da iniciativa privada, é um direito indiscutível. Mas, a partir do momento que atrás de quem compra está o Estado, é uma coisa de governo contra governo. Não vejo com bons olhos nenhum país vindo aqui comprar ativos no Brasil.
O sr. não está exagerando?
Vou contar um fato que me causou surpresa. No projeto da ferrovia Transnordestina tentamos comprar terras para induzir o desenvolvimento de plantio de grãos na região. Para nossa surpresa, encontramos grandes propriedades sendo tocadas por chineses. Eles já produzem grãos no interior do Piauí e de Pernambuco, coisa que nós, idealizadores do projeto, não sabíamos.
O sr. acha que os principais candidatos à Presidência aceitariam fazer esse tipo de intervenção?
Qualquer presidente tem de ter essa preocupação, porque é uma questão de soberania nacional. Independentemente de partido, estilo ou filosofia, é algo que tem de ser analisado e resolvido de maneira muito rápida, porque depois que comprarem não adianta fazer mais nada.
O sr. tem defendido o BNDES, mas a atuação do banco não está concentrada em poucas empresas?
Existe concentração porque não temos empresas globalizadas. É preciso fortalecer as empresas brasileiras para termos uma presença lá fora.
No caso dos frigoríficos, que é foco de críticas, o banco deu muito dinheiro para os grandes, enquanto os pequenos e médios se queixam de falta de acesso...
Não sei se é o que está acontecendo. Mas se a pequena e a média não estão sendo apoiadas, acho que está errado. Agora, essa posição do BNDES de fortalecer empresas brasileiras exportadoras de carne nos países importadores faz todo sentido estratégico. O nosso desafio é virar uma potência. Para isso, temos de fazer o que os outros países fizeram e deu certo. Não precisa melhorar, basta copiar.
O sr. quis internacionalizar a CSN. Tentou comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus e a cimenteira portuguesa Cimpor, mas não deu. Vai continuar tentando?
Temos de continuar, um dia vai dar certo. Mas é preciso ser racional. Se fosse pagar o que não vale, a gente teria levado. Sempre tive muita vontade de comprar a Corus. Fui até onde deu. Não deu para levar, o que posso fazer? Na Cimpor foi a mesma coisa. A gente vai continuar tentando.
Está olhando outros negócios?
Estou. Basicamente aquilo que completa o que a gente faz: aço, cimento e mineração. É claro que, se aparecer alguma coisa muito boa, vamos estudar.
Onde está procurando?
Num primeiro momento, nos Estados Unidos e na Europa.
O sr. vai mesmo desmembrar os ativos da CSN e abrir o capital das empresas resultantes?
A CSN, como as grandes empresas brasileiras, precisa se tornar um conglomerado mundial. A ideia é que a CSN tenha os seus cinco negócios abertos em bolsas: mineração, siderurgia, cimento, infraestrutura e logística, e energia. É claro que é um negócio trabalhoso desmembrar uma empresa grande e transformar em cinco.
Quando isso vai acontecer?
A gente vai fazer uma de cada vez. O que está mais maduro é a mineração, mesmo porque nós temos uma outra empresa de mineração em parceria com japoneses, coreanos e chineses, que é a Namisa. Temos 60% e eles, 40%. A ideia é juntar Namisa com Casa de Pedra e abrir o capital. É um projeto de 110 milhões de toneladas de minério de ferro, uma quantidade muito significativa.
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