segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sobre um ex-chefe de Estado convencido de que o Brasil nasceu com ele.

Enviado por Ricardo Noblat

Sobre um ex-chefe de Estado convencido de que o Brasil nasceu com ele


Carlos Brickmann

Esta é a história de um ex-chefe de Estado, convencido de que o Brasil nasceu com ele e que, antes, nem chegava a ser país. Tratava-se de uma reles colônia.

Um governante hábil, cercado de um imenso cordão de puxa-sacos, que beijava suas mãos e se ajoelhava diante dele. De certa forma, tolerava a imprensa, mas gostava de imiscuir-se na orientação dos jornais e de brigar com os jornalistas que não aceitavam suas imposições. Ai deles! Os inúmeros (e bem recompensados) adeptos do guia supremo os perseguiam e agrediam nas ruas.






Mesmo gostando de aparecer, passou muito, muito tempo sem dar entrevistas.

Era chefe de Estado, mas tinha profunda afinidade com os costumes do povo.

Viúvo, casou-se de novo; mas sua esposa não tinha o direito de se manifestar em público.

Quem mandava mesmo era a amante paulista, que nomeava e demitia, que beneficiava a família e seus protegidos, não tendo a menor preocupação com o escândalo que provocava. Era a namorada do chefe; quem não a apreciasse tinha todo o direito de obedecê-la, favorecê-la e calar-se.

A-do-ra-va dar palpite na política de outros países. Trouxe para o Brasil, regiamente pagos, aventureiros internacionais para auxiliá-lo nas tarefas a que se propôs – jamais se incomodou que fossem estrangeiros.

Fez seu sucessor, pessoa de boa-vontade, mas pouco eficiente – foi quem, por exemplo, prometeu gastar o que fosse preciso para levar água aos nordestinos.

Esta é a história, claro, de D. Pedro I, que acaba de ser exumado.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sorria, você está sendo roubado.


O Globo
Publicado em 19/01/2013
 
Guilherme Fiuza
 
O"Financial Times" disse que o jeitinho brasileiro chegou ao comando da política econômica. O jornal britânico se referia à solidariedade entre os companheiros Fernando Haddad e Guido Mantega, num arranjo para que a prefeitura de São Paulo retardasse o aumento nas tarifas de ônibus, ajudando o Ministério da Fazenda a disfarçar a subida da inflação. A expressão usada pelo "Financial Times" é inadequada. Os britânicos não sabem que esse conceito quase simpático de malandragem brasileira está superado. O profissionalismo do governo popular não mais comporta diminutivos. No Brasil progressista de hoje, os números dançam conforme a música. E a maquiagem das contas públicas já se faz a céu aberto: o império do oprimido perdeu a vergonha. No fechamento do balanço de 2012, por exemplo, os companheiros da tesouraria acharam por bem separar mais 50 bilhões de reais para gastar. Faz todo o sentido. Este ano as torneiras têm que estar bem abertas, porque ano que vem tem eleição e é preciso irrigar as contas dos aliados em todo esse Brasil grande. A execução do desfalque no orçamento foi um sucesso. Entre outras mágicas, o governo popular engendrou uma espécie de "lavagem de dívida" para fabricar superávit. Marcos Valério ficaria encabulado. O Tesouro Nacional fez injeções de recursos em série no BNDES, que por sua vez derramou financiamentos bilionários nas principais estatais, e estas anteciparam sua distribuição de dividendos, que apareceram como crédito na conta de quem? Dele mesmo, o Tesouro Nacional - o único ente capaz de torrar dinheiro e lucrar com isso. Ao "Financial Times", seria preciso esclarecer: isso não é jeitinho, é roubo. A "contabilidade criativa" - patente requerida pelos mesmos autores dos "recursos não contabilizados" que explicavam o mensalão - não é vista como estelionato porque o brasileiro é um amistoso, um magnânimo, deslumbrado com seu final feliz ao eleger presidente uma mulher inventada por um operário. Não fosse isso, era caso de polícia. A falsidade ideológica nas contas do governo Dilma rouba do cidadão para dar ao governo. Ao esconder dívidas e "esquentar" gastos abusivos, a Fazenda Nacional fabrica créditos inexistentes - que serão pagos pelos consumidores e contribuintes, como em toda desordem fiscal, através de impostos invisíveis. O mais conhecido deles é a inflação. Em outras palavras: o jeitinho encontrado pelo companheiro-ministro da Fazenda para maquiar a inflação é um antídoto contra o jeitinho por ele mesmo usado para aumentar a gastança pública. O maior escândalo não é a orgia administrativa que corrói os fundamentos da estabilidade econômica, tão dificilmente alcançada. O grande escândalo é a passividade com que o Brasil assiste a isso, numa boa. Se distrai com polêmicas sobre "pibinho" ou "pibão", repercute bravatas presidenciais sopradas por marqueteiros, e não reage ao evidente aumento do custo de vida, aos impostos mais altos do mundo que vêm acompanhados, paradoxalmente, por recordes negativos de investimento público. A bandalheira fiscal é abençoada por um silêncio continental. Nem a ditadura conseguiu esse milagre. No auge da era da informação, o Brasil nunca foi tão ignorante. Acha que as baixas taxas de desemprego - fruto de um ciclo virtuoso propiciado pela organização macroeconômica - são obra de um governo com "sensibilidade social". Justamente o governo que está avacalhando a estabilização, estourando a meta de inflação e matando a galinha dos ovos de ouro. Esse Brasil obtuso acha que as classes C e D ascenderam ao consumo porque o que faltava, em 500 anos de história, era um governo bonzinho para inventar umas bolsas e distribuir dinheiro de graça. Esse mal-entendido pueril gera uma blindagem política invencível. Os passageiros que assaram no Galeão e no Santos Dumont, no vergonhoso colapso simultâneo de dezembro, são incapazes de relacionar seu calvário ao caso Rosemary - a afilhada de Lula e Dilma que protagonizou o escândalo da Anac, por acaso a agência responsável pela qualidade dos aeroportos. O governo popular transforma as agências reguladoras em cabides para os companheiros e centrais de negociatas, e o contribuinte sofre com a infraestrutura depenada como se fosse uma catástrofe natural, um efeito do El Niño. Novamente, nem os generais viveram tão imunes à crítica. Com a longevidade do PT no Planalto, o assalto ao Estado vai se sofisticando. A área econômica, que era indevassável à politicagem, hoje tem a Secretaria do Tesouro devidamente aparelhada - um militante do partido com a chave do cofre. E tome contabilidade criativa. Definitivamente, o Brasil não aprendeu nada com a lição do mensalão. Os parasitas progressistas estão aí, deitando e rolando (de tão gordos), rumo ao quarto mandato consecutivo. Não contem para o "Financial Times", mas a conta vai chegar.

 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez e os "democratas" brasileiros

(Espaço Aberto)
 
Mas que coisa, hein, meus caros?

No país da democracia, no país da liberdade, no país em que a divergência deveria ser um sinal de inteligência, no país em que o confronto de ideias deveria ser a luz para consensos e não para unanimidades, execra-se quem sonha com a democracia, com a liberdade, com a divergência e com o confronto de ideias.

Esse país é o Brasil.

A execrada é Yoani Sánchez.

Yoani Sánchez, sabem vocês, é a blogueira e jornalista cubana que execra as ditaduras, que sonha com a liberdade, que anseia pela transparência, que não se intimida em denunciar a violação dos direitos humanos em Cuba, onde, acreditem, ainda há presos políticos por delitos de opinião (ceús!).

Yoani Sánchez, com edita o blog Generacion Y, está no Brasil.

Já ouviu chamarem-na de "mercenária", de "vendida", de "instrumento do imperialismo", "de representante dos interesses yanques" - essas baboseiras todas.

Abram-se, no entanto, passagem para as baboseiras.

Até para elas.

Abram-se alas para as os bordões d'antanho (huuu!), para os lugares-comuns pré-queda-muro-de-Berlim.

Até para eles.

A democracia acolhe, é claro, os protestos, as divergências, as insatisfações externadas pública e tonitruantemente (huuu! - outra vez).

Democracia sem contrastes não é democracia, né?

Pois é.

Uma coisa é a liberdade de protestar até contra quem, como Yoani Sánchez, luta pela liberdade e contra a ditadura.

Outra coisa é, no país da democracia, cercear o debate e impedir, mais ou menos à força - força bruta, vale dizer -, que eventos se realizem.

Ontem à noite, a blogueira estava em Feira de Santana (BA), para o lançamento do documentário Conexão Cuba-Honduras, razão primeira de sua vinda ao Brasil.

Houve protestos contra ela.

Até aí, nada demais.

E aí?

E aí que grupos de manifestantes impediram a exibição do documentário.

Mesmo assim, Yoani permanecia, até o final da noite de ontem, tentando conversar com os manifestantes.

Ela e o intrépido senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que a acompanhava e chegou a discutir com um manifestante.

Grande Suplicy!

Pelo menos ele para mostrar à blogueira cubana, sonhadora das liberdades, que no Brasil da democracia há gente tolerante.

Tão tolerante que até cultiva o dissenso.

Mas a maior lição foi mesmo a de Yoani.

Em vez de ser avessa a protestos, ela os acolhe com a naturalidade do maior dos democratas.

Yoani Sánchez já foi presa e torturada em Cuba simplesmente por denunciar violações execráveis dos direitos humanos. Ela sabe o que é viver sob um regime ditatorial.

Os manifestantes que bradam contra a blogueira e a execram só sabem o que é viver em liberdade. Que bacana, não é?

Esse é o país da democracia.

Esses não os nossos democratas.

TOLERÂNCIA ZERO.



Ives Gandra
Reza o artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
É do conhecimento geral que a religião católica apostólica romana tem a missa como centro de sua liturgia e, nesta, o momento mais solene é o da consagração das espécies, em que, pela transubstanciação, o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo, sem alteração das espécies.
O gesto de Cristo, na última Ceia antes do martírio do julgamento, via crucis, calvário e cruz, é renovado há dois mil anos pelos sacerdotes ordenados, que ingerem o vinho transubstanciado em pequena quantidade.
O número reduzido de sacerdotes para o grande número de fiéis leva muitos deles a “binarem” ou “trinarem” (oficiam 2 ou 3 missas por dia) em lugares diversos, ingerindo, pois, em cada consagração, uma pequena quantidade de vinho.
Ora, pela lei “politicamente correta” – segundo a qual qualquer quantidade afetaria necessariamente as habilidades dos motoristas – aprovada com grande estardalhaço midiático, multas elevadíssimas e até pena de prisão serão aplicadas aos motoristas que tenham consumido até mesmo um bombom com licor, pois a tolerância é zero.
Ora, como os sacerdotes católicos não podem deixar de rezar a missa diária e nem de atender os fiéis em diversas igrejas e lugares para os ofícios – como ministrar extrema unção em hospitais, encomendar corpos em velórios, além de sua pastoral normal – e não gozam das mordomias oficiais dos agentes públicos de certo escalão, nos três Poderes (que se utilizam de motoristas pagos pelo erário público), pois vivem com orçamentos limitados, são obrigados a dirigir seus próprios carros no exercício de sua atividade sacerdotal.
Ora, qualquer deles está sujeito, numa “blitz”, a ser multado e, na reincidência, preso, em fantástica violação ao art. 5º, inciso VI da Constituição Federal, que proíbe qualquer limitação ao culto das religiões, cujo livre exercício é assegurado, sendo inviolável a liberdade de crença.
A lei de tolerância zero, que cerceia a liberdade de culto – culto este que tem 2 mil anos no mundo inteiro e em todos os países, até mesmo na maioria dos islâmicos – é, neste particular, manifestamente inconstitucional, pois impede o exercício da atividade pastoral dos sacerdotes católicos apostólicos romanos, proibindo-os de dirigir os seus próprios carros para atender os fiéis nos casos em que sua presença se faz necessária, desde o nascimento até a morte (batismo, casamento, extrema unção e encomenda de corpo).
Assim, caso algum sacerdote seja multado ou preso por exercer a sua atividade, poderá ser arguida a inconstitucionalidade manifesta da lei, que representa o cerceamento de sua ação pastoral.
Em minha opinião, caberia, inclusive, uma ação direta de inconstitucionalidade pela qual, conforme jurisprudência pacífica no STF, a inconstitucionalidade seria decretada sem redução do texto legal, que seria mantido, exceto nessa hipótese.
Pessoalmente, entendo que é uma lei contrária à lógica e à razão. Deveria ela punir apenas aqueles que tivessem bebido quantidade de álcool suficiente para afetar suas habilidades de motorista, e não partir do pressuposto, absolutamente imbecil, de que qualquer gota de álcool pode afetar tais habilidades. O problema é sempre o mesmo: as autoridades querem se eximir de fiscalizar. Como dá mais trabalho verificar se o condutor ingeriu a dosagem mínima que a lei admite, adotam a “tolerância zero”. Com isso, no Brasil, todos os que comerem um bombom com licor tornam-se inabilitados para dirigir, porque têm, por ficção, suas faculdades mentais afetadas. Ora, o “politicamente correto” não pode excluir a razoabilidade, sob pena de se transformar em “estupidez politicamente correta”, que ficará no anedotário da história para as futuras gerações.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

PENSAMENTO QUE DÁ O QUE PENSAR !

RELIGIÃO É UMA ORGANIZAÇÃO DE RESPOSTAS PARA AS PERGUNTAS QUE NÃO TÊM RESPOSTAS.

GOVERNOS ESPETACULARES FAZEM ESPETÁCULOS

ELIO GASPARI
Desde o ano passado o semiárido nordestino atravessa uma grave seca. Na Bahia, Sergipe, Alagoas e Maranhão, 75% dos municípios estão em estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades as escolas dependem do socorro de vizinhos.
Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.
A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, “Chambinho do Acordeon”, feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que “a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela”. Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que “o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais”.
Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.
Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: “O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas o PT tem”. Qual era? “O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto”. Em 2003, eleito, Lula prometeu: “Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do rio São Francisco”. Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois e depois de dez anos o “copo de água” ainda não apareceu.
A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos criou um novo estilo de administração e nele o governador do Ceará, Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Plácido Domingo. A tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou 3.000 convidados.
Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro passado ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço político de sua família desde a Proclamação da República. Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários. Até hoje ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios-x. Hospital mesmo, só em maio.
Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

VOU PARA BRUZUNDANGA !

      ( By JBF )
Marco Antonio Villa
O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres. Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é Dilma Rousseff.
Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada como “doutora” em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias populares, conhecidas como “de 1,99″. Não deu certo. Teve logo de fechar as portas.
Caminharia para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.
Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia. Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a pergunta: por quê? Para o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa – um projeto, uma ideia -, foi alçada a sucessora de Lula.
Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma presidente – a primeira – no imaginário popular.
Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica, considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e simpático à então candidata. Foi transformada em “mãe do PAC”. Acompanhou Lula por todo o País. Para ela – e só para ela – a campanha eleitoral começou em 2008. Cada ato do governo foi motivo para um evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura da imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela – e violando abertamente a legislação eleitoral.
Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da corrupção. Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse público.
Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo, a presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas. O crescimento do produto interno bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a vitória eleitoral, logo não passou de uma recordação. Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de todos os artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em 2012 não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%. O saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle. E a dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.
As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram. Os milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais transformaram-se em meros instrumentos políticos – a Petrobrás é a mais afetada pelo desvario dilmista.
Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime: abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.
Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o presidente “devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total”.
 
PS:
 Faltou lembrar a passagem da “doutora” numa secretaria do estado do RS que ela deixou em frangalhos e o que ela e seu desgoverno está fazendo com o Estado de Minas Gerais.