terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez e os "democratas" brasileiros

(Espaço Aberto)
 
Mas que coisa, hein, meus caros?

No país da democracia, no país da liberdade, no país em que a divergência deveria ser um sinal de inteligência, no país em que o confronto de ideias deveria ser a luz para consensos e não para unanimidades, execra-se quem sonha com a democracia, com a liberdade, com a divergência e com o confronto de ideias.

Esse país é o Brasil.

A execrada é Yoani Sánchez.

Yoani Sánchez, sabem vocês, é a blogueira e jornalista cubana que execra as ditaduras, que sonha com a liberdade, que anseia pela transparência, que não se intimida em denunciar a violação dos direitos humanos em Cuba, onde, acreditem, ainda há presos políticos por delitos de opinião (ceús!).

Yoani Sánchez, com edita o blog Generacion Y, está no Brasil.

Já ouviu chamarem-na de "mercenária", de "vendida", de "instrumento do imperialismo", "de representante dos interesses yanques" - essas baboseiras todas.

Abram-se, no entanto, passagem para as baboseiras.

Até para elas.

Abram-se alas para as os bordões d'antanho (huuu!), para os lugares-comuns pré-queda-muro-de-Berlim.

Até para eles.

A democracia acolhe, é claro, os protestos, as divergências, as insatisfações externadas pública e tonitruantemente (huuu! - outra vez).

Democracia sem contrastes não é democracia, né?

Pois é.

Uma coisa é a liberdade de protestar até contra quem, como Yoani Sánchez, luta pela liberdade e contra a ditadura.

Outra coisa é, no país da democracia, cercear o debate e impedir, mais ou menos à força - força bruta, vale dizer -, que eventos se realizem.

Ontem à noite, a blogueira estava em Feira de Santana (BA), para o lançamento do documentário Conexão Cuba-Honduras, razão primeira de sua vinda ao Brasil.

Houve protestos contra ela.

Até aí, nada demais.

E aí?

E aí que grupos de manifestantes impediram a exibição do documentário.

Mesmo assim, Yoani permanecia, até o final da noite de ontem, tentando conversar com os manifestantes.

Ela e o intrépido senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que a acompanhava e chegou a discutir com um manifestante.

Grande Suplicy!

Pelo menos ele para mostrar à blogueira cubana, sonhadora das liberdades, que no Brasil da democracia há gente tolerante.

Tão tolerante que até cultiva o dissenso.

Mas a maior lição foi mesmo a de Yoani.

Em vez de ser avessa a protestos, ela os acolhe com a naturalidade do maior dos democratas.

Yoani Sánchez já foi presa e torturada em Cuba simplesmente por denunciar violações execráveis dos direitos humanos. Ela sabe o que é viver sob um regime ditatorial.

Os manifestantes que bradam contra a blogueira e a execram só sabem o que é viver em liberdade. Que bacana, não é?

Esse é o país da democracia.

Esses não os nossos democratas.

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