Ricardo Noblat
A princípio, ilegal não é. Não é mesmo. Tampouco é antiético.
Na condição de ex-presidente da República, Lula pode fazer conferências onde quiser e cobrar por elas o quanto quiser. Se quem paga é pessoa, empresa ou entidade idônea...
Respeitada tal condição, Lula também pode viajar à custa de quem quiser. E prestar serviço remunerado a quem quiser. Pode fazer lobby no exterior? Sim. E aqui? Não.
Lula visitou 30 países desde 2011, segundo a Folha de S. Paulo. Vinte deles ficam na África e na América Latina. Na última terça-feira, sob o patrocínio da empreiteira Odebrecht, começou pela Nigéria um novo giro africano. Enquanto presidente estimulou investimentos na África e na América Latina. O Instituto Lula foi criado para ajudar “o desenvolvimento” dos dois continentes.
Quase metade das viagens feitas por Lula foi financiada por empreiteiras que tinham interesses econômicos nos países visitados por ele.
Elas negam que usem Lula para facilitar negócios. A assessoria de Lula afirma que ele trabalha para promover “os interesses” do Brasil e não os das empresas que o carregam para lá e para cá.
Quando os interesses do Brasil coincidem com os das empresas... Fazer o quê?
Se empresas brasileiras se dão bem em outros países, se Lula pode ajudá-las, se assim forra os bolsos com dólares, estupendo! Ganham o Brasil, as empresas e Lula.
Em novembro de 2012, ele foi a quatro países – dois deles a serviço da empreiteira Camargo Corrêa. Contribuiu “para reduzir resistências enfrentadas por empresas brasileiras em Moçambique”, segundo a embaixadora Lígia Scherer.
Um ano e pouco antes, a bordo de um avião da OAS, outra empreiteira, Lula fora à Bolívia reunir-se com o presidente Evo Morales.
Pressões locais impediam a OAS de tocar uma rodovia de US$ 415 milhões. Morales concordou em indenizar a OAS em US$ 9,8 milhões.
De lá, Lula voou para a Costa Rica, onde a OAS disputava uma obra de US$ 57 milhões. Ela perdeu a disputa. Mas ganhou outra de US$ 500 milhões.
Os implicantes dizem que um ex-presidente não deveria exercer a função de lobista, valendo-se do prestígio do cargo que exerceu para costurar negócios.De resto, como presidente, lidou com assuntos pertinentes aos interesses dos seus atuais patrões.
E se acaba ganhando vulto a suspeita de que está sendo remunerado igualmente por decisões passadas que beneficiaram empresas que hoje o beneficiam?
Não seria justo...
Presidentes norte-americanos, no exercício do mandato, facilitam a penetração de empresas do seu país em outros países. Alguns procedem da mesma forma na condição de ex-presidentes.
Lula copiou o modelo deles, ao que tudo indica.
Só não pode esquecer que há limites para tudo. Como cidadão, uma vez que aja dentro da lei, não deve satisfações a ninguém. Como ex-presidente, deve.
Há um código de conduta não escrito para casos como o de Lula.
Por óbvio, ele não deve negociar interesses de empresas junto a governos com os quais se relacionou como presidente. Nem fazer lobby com a ajuda de diplomatas do seu país e gastando dinheiro público.
O Itamaraty assessora Lula em viagens de negócios. E já pagou despesas dele. Dilma ouviu Lula pedir por empresas. Muito feio!
No fim do seu segundo governo, Lula prometeu que ensinaria a Fernando Henrique Cardoso como um ex-presidente deveria se comportar.
Fernando Henrique está esperando até hoje. A não ser que a aula esteja em curso e ele não tenha se dado conta.
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