A respeito da aplicação ou não dos recursos infringentes a opinião pública está contra o STF. Mas qual opinião pública? “A da mídia, oras”, avalia, sem rodeios, o sociólogo Venício de Lima, professor da UnB e dedicado aos estudos da mídia. “Desde meados do século passado, os principais grupos de mídia reivindicam a representação da opinião pública em detrimento dos canais institucionais da democracia representativa, como partidos, governos e Congresso. Isso porque a imprensa tem o papel de mediar a comunicação, fazer a ponte entre o público e as instâncias de debate político.” Com um problema, ressalta: “Ao mesmo tempo que fazem essa mediação, esses grupos são atores políticos, defensores de seus próprios interesses e dos de seus financiadores. Em nenhum lugar do mundo a mídia pode se colocar como porta-voz da opinião pública. Menos ainda no Brasil, marcado pela forte concentração dos meios de comunicação, um oligopólio de interesses muito particulares”.
A avaliação de Lima é compartilhada pela cientista política Vera Chaia, professora da PUC-SP. “A mídia não foi eleita, não tem representatividade, não pode falar em nome do conjunto da população. O que pode medir a opinião pública são as pesquisas e mesmo assim é preciso olhar para elas com certa desconfiança, pois normalmente direcionam o entrevistado a se manifestar sobre as pautas predeterminadas pela mídia”, avalia a docente.
“Ela só se manifesta quando há consenso na sociedade. É do interesse do conjunto da população, por exemplo, ter um sistema de transporte público bom e confiável. Não interessa se boa parte da população tem automóvel particular. A mobilidade urbana depende de sistemas de transporte coletivo”, afirma.
O conceito de “opinião pública” está no singular não por acaso. Falar em nome da "opinião pública", da "sociedade" do "povo" é no mínimo precipitação. Todos esses conceitos são fluídicos e não cabem em rótulos, são amalgamas, são misturas, é coletivo e instável. Pilatos quis saber da "opinião pública" sobre a quem deveria libertar e o povo gritou: "soltem Barrabás!"
E nós estamos prendendo Jesus e soltando Barrabás desde esse tempo em nome do "povo".
Pensem nisso!
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