Ruim para o Brasil é quando o PMDB faz as pazes com o PT, não quando eles brigam
Sempre que o PMDB briga com o governo, há a chance de o Brasil melhorar. Aí eles fazem as pazes, e o país piora. Até agora ao menos, os esforços da presidente Dilma para deixar Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara, falando sozinho não deram em nada. Ao contrário. Ele passou a receber manifestações de solidariedade. Em rompimento pra valer, não resulta porque não existe maioria para isso. Mas a tensão, até agora, só aumenta.
Uma das ameaças do PMDB é se juntar à oposição para convocar ministros a prestar esclarecimentos à Câmara. A lista é robusta. Neste terça, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara votará requerimentos da oposição para ouvir Edison Lobão sobre a crise no setor energético; Aldo Rabelo, sobre as trapalhadas da Copa do Mundo, e Arthur Chioro, o ministro apaixonado, que leva a mulher para o serviço e foi a quatro capitais, no Carnaval, com avião da FAB, para distribuir camisinhas…
Então eu digo assim: se a rebelião de parte do PMDB colaborar para levar ministros a prestar esclarecimentos ao Congresso sobre ações nebulosas de suas respectivas pastas, estamos diante de um ganho, não é mesmo? Viva a rebelião! Sempre que o PMDB decide se sublevar, há uma possibilidade de o Brasil melhorar. A única coisa que lamento é que essas coisas não costumam dar em nada. E há sempre o risco de acontecer o contrário: tudo pode piorar. Pergunto: e se Dilma desse o sexto ministério para o PMDB? Bem, nesse caso, seria grande a chance de o partido voltar a ser um governista mais entusiasmado do que o PT.
E daí deriva boa parte da força do petismo. Naquela reunião ilegal feita no Palácio da Alvorada, na Quarta-Feira de Cinzas, João Santana, o marqueteiro de Dilma, levou dados de uma pesquisa — ou algo assim — demonstrando que a presidente ganha pontos junto a opinião pública quando aparece dando um pé no traseiro dos políticos. Até parece que ela é de outra natureza; até parece que ela não é política também.
A cada vez que o PMDB se rebela e ameaça fazer o que é o convencional que parlamentares façam democracias afora — cobrar explicações do Executivo —, há a possibilidade de o Brasil melhorar. A cada vez que esse levante não dá em nada ou, pior, resultada numa prebenda ou outra, é o PMDB que se degrada um pouco mais; é a política que piora.
E aí existe um fenômeno que está para ser estudado e devidamente caracterizado: a cada vez que a política se degrada, sabem quem ganha? É o petismo. A razão é simples: o PT não é apenas um partido político, como todo mundo sabe. Essa força também se traduz em sindicatos, movimentos sociais, ONGs, que são grupos de pressão que se organizam de modo paralelo às instituições e, cada vez mais, pretendem tomar o seu lugar. São crescentes as vozes — inclusive de intelectuais do miolo mole — que acham um avanço que a política se dê fora dos partidos e do Parlamento. Não é, não! Isso é um recuo civilizatório.
Esse PMDB que encosta a faca no pescoço do governo seria um bem para o Brasil caso se levasse a sério. O ruim, para nós, é quando eles fazem as pazes, não quando brigam.
By VEJA.com
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