Desafiado por Alvair de Carolino, um primo muito próximo
e que sempre está por perto com muita disposição, concordei em reservar uma
área do sítio no Serro Frio para plantar feijão. Com a minha vida de correrias,
de idas e vindas intermináveis, o desafiador tomou conta de todo o processo de
plantio até a sua etapa final.
Após
a colheita e feita a apuração do produto verificou-se um resultado além do
esperado. Inicialmente a proposta era ter um feijão para uma feijoada no início
das férias e repetir o refrão do Vô Amim: esse feijão é do Serro!!!
Ocorre
que a safra foi tão boa que tenho o produto armazenado ainda hoje.
Inicialmente distribui para os parentes mais próximos. Em
seguida para os residentes mais distantes. Transportei feijão de avião para Macapá
e Belém, abasteci a dispensa de cunhados e aderentes. Ocorre que é tanto feijão
que não consegui dar vencimento em sua totalidade ... e pior, o que era uma
grande brincadeira com objetivo de reunirmos em torno de uma mesa farta de
leguminosas, hoje está se tornando um grande dilema. Explico: - feijão orgânico
quando não tratado com defensivo produz uma broca que se não controlada pode
acabar destruindo todo o produto.
E agora? O jeito é distribuir mais feijão. Dei início ao
processo de redistribuição do que ainda resta, mas com um problema adicional: antes
de entrega-lo tenho que limpa-lo pois a infestação da broca se intensificou e
prejudicou demais o produto.
Como diziam os antigos do tempo da zagaia: se não tem
jeito, ajeitado está. Mãos á obra. Dei início ao processo: estendi um pano
limpo no terraço e despejei o feijão para pegar sol; após algumas horas os
insetos não suportaram a temperatura alta e bateram em retirada. Constatada a
diminuição das impurezas do produto comecei a proceder a sua catação.
Depois de algumas desajeitadas medidas, não sabia se
me sentava ao lado do pano rés ao chão ou se levava o feijão à mesa; não sabia se
me acocorocava para proceder a catação ou se o fazia de pé. Essa dúvida
levou-me a parar e a pensar: nessa fase do processo cata-se o feijão saudável e
elimina-se a impureza ou catam-se as impurezas e recolhe-se o feijão apropriado
ao consumo? Eis a questão.
Passei então a comparar o processo de limpeza do feijão ao
processo de evolução a que estamos submetidos em vida. Como devemos proceder:
valoriza-se a parte saudável de nossas experiências eliminando o que há de ruim
em nosso intimo ou identifica-se o que temos de negativo interiormente
eliminando-os um a um para só então promover o que há de bom em nós e
valorizarmos o que encontramos. É uma busca e essa busca passa
pela equação Felicidade = Realidade menos Expectativa. Ou no caso presente Feijão
Limpo é igual a Feijão Impuro menos as Impurezas.
Seja de uma forma ou de outra o processo de catação é
lento. Há momentos de desânimo, há momentos de desestímulo, há os inconvenientes da jornada e há também momentos
de alegria. Estes aparecem principalmente quando você estabelece metas e vê-las
sendo cumpridas. É semelhante ao momento que você vê uma panela de feijão ser
preenchida, cosida e colocada à mesa para ser deglutida. Estando bem temperado
e sendo o feijão de qualidade é de dar água na boca.
Se o que temos é feijão ele é o nosso mundo, com sua realidade
e, o que precisamos é dar continuidade no processo de eliminação
das impurezas, mas com a certeza de que iremos dar conta do recado. Aos poucos
vamos enchendo panelas e panelas de feijão pronto para o uso e repetindo o refrão:
esse feijão é do Serro Frio, bom apetite!
Pensemos!
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