quinta-feira, 11 de junho de 2015

QUEM SE LEMBRA DO AFOXÉ?



Afoxé é um instrumento musical composto de uma cabaça pequena redonda, recoberta com uma rede de bolinhas de plástico parecido com o Xequerê.
Afoxé é um ritmo do Candomblé. O Afoxé como ritmo tornou-se popular, principalmente pela atuação do grupo baiano Filhos de Gandi.
Afoxé também é chamado de Candomblé de rua - é um cortejo de rua que sai durante o carnaval.
O afoxé é bloco carnavalesco em BH e Rio de Janeiro, de comportamento específico.
Tudo isso é afoxé.

Contudo, quando eu falo em afoxé escolho a melhor conceituação: “Afoxé é tudo aquilo de bom que o vento traz”.

Final de inverno em Macaé, Praia dos Cavalheiros, mês de setembro do ano de 1973.

Eu e Rogério, dois ex-soldados sem muitas perspectivas de vida, mas pensando no futuro mais próximo se perguntam: o que vamos fazer no próximo verão? A praia deserta, final de tarde, vento sudoeste soprando...

E o vento nos trouxe a ideia: vamos construir um bar aqui na praia; vamos vender agua de coco para as crianças pela manhã, picolé e sorvete a tarde, lanche e comida a noite e vamos dançar na boate pela madrugada. Uffa!!! Que tal?

Inicio de noite, sessão do Cine Taboada com filme repetido.    

Vamos ao Silvic fazer um lanche e lá discutimos o assunto com alguns sábios macaenses.

O primeiro afirmou entre um copo e outro: “isso não vai dar certo, ninguém vai naquela praia; é muito longe, ela é deserta. É melhor fazer na Imbetiba!”

Outro sábio, o “Juju” pilheriou: “boate perto de puteiro é difícil ganhar da concorrência!”

O maior dos sábios o “Flouber” filosofou: “quem não se arrisca não petisca.”

Outro sábio, Dôdozinho - “Chef de cozinha recém-saído da prisão e desempregado” decretou: “eu tô dentro! E levo o papa-capim do Mijolão.”

Estava concretizada a ideia. Só faltava... o dinheiro. Quem financiaria tal empreitada?

Nesta época em Macaé não havia a Petrobrás, o petróleo ainda estava para ser identificado. O que mantinha a cidade eram duas usinas de açúcar, três pequenas indústrias, o incipiente comércio, os bancos, a cooperativa de laticínios e o mercado de peixe  era o que puxava o “progresso” da cidade. Sem falar na Leopoldina que até então era a oficina das “marias- fumaças” e mantinham os empregos dos ferroviários.

Despontavam na época, quatro grandes empreendedores na cidade: Ary Jacour, Haroldo, Luis Osório e Perinho.

O primeiro permitiu o uso do terreno, o segundo incentivou o projeto pensando no turismo, o terceiro emprestou seu filho para contabilizar o empreendimento e o ultimo se fez um grande cliente.

Claudio Santos embarcou na ideia e rabiscou os primeiros traços do projeto: um ponto de apoio central. Um ponto de captação do vento. Tudo em madeira e sobra de construção.

As equipes do Seu Nilo Tavares com Edgar e Edval prontificaram-se a construir para receber depois de pronta a obra. Trouxemos a madeira roliça e as palhas da bicuda na Veraneio de meu pai.

Na cozinha,  Dodozinho e Mijolão e o papa-capim. Dezenas de colaboradores anônimos acreditaram no empreendimento. Uns ajudaram na iluminação, outros nos arranjos. Sérvulo nos quadros.

O afoxé foi erguido. Ficou pronto. Dezembro chegando e o com ele a grande novidade do verão de 1974.

A musica sempre esteve maravilhosa com a orientação de J. Lacerda. A comida divina. A cerveja gelada. O coco pela manhã e o sorvete no final da tarde.

A tarefa diária começava no mercado de peixe pela manhã e acabava na ultima função do cabaré na “Cancela Preta”.

Três meses de sucesso. Fizemos concorrência ao “860” da Imbetiba. Verão quente... praia, carnaval... muitas lutas, muitas brigas.
Veio a chuva e com ela o mês de março. O afoxé ficou deserto. No estoque garrafas de Montilla, Rayol Label e Moranguinho. As previsões dos frequentadores do Silvic estavam certas. 

As vizinhas foram chamadas para ajudar a consumir todo o estoque.

Uma corda. Um jipe. A cobertura foi ao chão. Um sonho também.

O vento virou, o "terral" soprou forte. E o afoxé levou o que havia trazido.

Axé!

      

 

 

  

 

 

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