quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Verticalização de alianças nas eleições municipais.



Simultaneamente ao julgamento do caso conhecido como Mensalão do PT (existem outros, como os do PSDB mineiro e do DEM candango), estamos em pleno período de campanha eleitoral nos municípios.
Desenvolvendo a análise a partir da cultura política reinante, ou seja, incluindo variáveis de atitude (transitória) e comportamento (estruturante), temos motivos de sobra para ficar preocupados com a qualidade do jogo democrático no Brasil. Se observarmos o padrão das alianças locais, aí a preocupação torna-se puro desespero.
Não é preciso ser especialista para constatar o óbvio. Diante do conjunto de alianças circunstanciais, sem nenhuma coerência interna ou afinidade discursiva, é simplesmente impossível para um eleitor mediano reconhecer o alfabeto da política. Afinal, o estatuto da representação implica em ter um discurso diferenciado, uma carga ideológica explícita e proximidades e distâncias bem estipuladas para com outros agrupamentos.
Na ausência destes elementos básicos de identificação, a escolha de candidatos e legendas, simplesmente não será baseada em nada programático. Quando não há aliança programática, resta associação de última hora, apenas juntando interesses imediatistas, onde a meta de todos é apenas ocupar postos de poder (de baixo recurso) e dotações orçamentárias (não muito volumosas).
Não há como exigir um comportamento razoável do eleitor se quem concorre para o cargo se porta tão mal.
Quando não se identifica a divisão ideológica, a reprodução é a ideologia dominante, e sua cultura política hegemônica. Ou seja, o sentido lógico do engajamento político passa a ser a sobrevivência, a colocação laboral. O motor dessa cultura são as relações sociais, não escapando nenhum evento coletivo em escala municipal sem a presença de um enxame de candidatos a vereança e mesmo para prefeito.
A única forma de alterar este comportamento, ao menos o que vem de cima para baixo, seria algum tipo de verticalização de alianças. Não é possível uma sopa de siglas baseadas na ocasião fazer algum sentido para o eleitor mediano. Daí a associar a concorrência por cargos e representação apenas ao interesse econômico, não custa muito.
As relações de clientela são muito fortes no Brasil, e como tal precisam ser combatidas. Uma boa forma seria a recomposição de blocos político-ideológicos, até para termos embates programáticos na campanha. É importante agrupar as legendas e para isso seria fundamental comprometer, a partir dos estados, as formas de aliança política.

Bruno Lima Rocha é cientista político

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