terça-feira, 8 de janeiro de 2013

SINDROME VERBORRÁGICA CRÔNICA – SVC

(Beth Michel - by JBF)

Imagino que todos concordem que “se comunicar” não é o mesmo que fazer “sopa de letrinhas”, principalmente quando se trata da palavra escrita. A palavra dita pode se “des dita” e remediada com tapinhas nas costas, já a palavra escrita necessita do processo penoso da retratação para ser invalidada – e ainda assim, sempre fica com uma sombra para o autor e para a vítima.
A febre “bloguistica” que virou epidêmica, quando atinge pessoas com imunidade baixa, ou gente muito jovem ou muito idosa, gestantes ou parturientes recentes (principalmente primíparas) deve ser sempre supervisionada por profissional competente. Se o infectado decide optar pela automedicação então…Desastre a vista!
Bem, o fato é que mal curada deixa seqüela: Síndrome Verborrágica Crônica. O paciente se vê na triste (e cara) contingência de usar os famigerados “medicamentos de uso contínuo” e sofrer com os inevitáveis efeitos colaterais.
Gostaria de chamar a atenção do distinto público que esteja exposto ao vírus para algo que um professor meu sempre dava ênfase: “precisão de linguagem”. Não chega a ser uma vacina, mas é um bom preventivo.E há de se convir que seja mais prático do que andar com um nerd a tiracolo.
Meu querido e saudoso mestre Afonso Arinos (Direito Constitucional), ao dizer isto se referia aos cuidados que os profissionais da área jurídica deviam tomar ao redigir qualquer documento.Ou seja, o uso da palavra exata para cada coisa. Creio que estes cuidados deviam fazer parte do dia-a-dia de políticos e jornalistas também. Por um lado se evitariam “pedradas”, e por outro, mal entendidos monumentais. Isto foi há 40 anos quando o vírus estava ainda na sua forma primitiva denominada P&B (preto no branco). E o remédio prescrito então era, e ainda é o bom e velho DICIONÁRIO!
Cuidado com as panacéias alternativas como os “neologismos” e “figurativismos” que tem reações adversas imprevisíveis!
Então voltemos ao consagrado e eficaz Dicionário que pode ser usado sem receio por qualquer paciente e em qualquer faixa etária. Sendo que nos casos de exposição prolongada e sem supervisão pode ser necessária a utilização da versão mais potente denominada ENCICLOPÉDIA.
Voltemos então a formula básica do uso do DICIONÁRIO, que descreve:
- Denodo (ô), s.m. Ousadia; intrepidez; valor; desembaraço; ímpeto; valentia.
- Temerário adj. Precipitado; imprudente; ousado; audaz; arrojado; arriscado; atrevido; destemido.
Nos dois verbetes aparece a conotação de OUSAR, mas atreladas a atitudes sutilmente diferentes uma positiva e outra negativa.
Então, vamos a OUSAR e seus derivados.

- Ousar, v.t. Atrever-se a; ter coragem para.

Ora, a ação que segue o “atrever-se a” ou “ter coragem para” pode ser positiva ou negativa, o verbo e seus derivados não entram no mérito. Assim, quando alguém se auto-intitule de “ousado”, mesmo pensando que se trata de um elogio, na verdade está dizendo NADA, nem em bem nem em mal. O que não deixa de ser uma “temeridade, pois muita gente poderá inclusive optar pela vertente do “atrevimento”, da “imprudência” ou da “precipitação”; ao invés de ”valoroso” ou “valente”. A esta capacidade de optar se costuma chamar de: liberdade de pensamento, ou para os mais religiosos livre arbítrio.

Estão seguindo a linha de raciocínio!? Bem, então vamos em frente…

- Temeridade (*), s.f. Qualidade do que é temerário; imprudência;arrojo; audácia; destemor.
(*) não confundir com : Temeroso, adj. Que infunde temor; terrível; que tem medo; medroso.

Por um lado tem-se:
- Atrevimento, s.m. Ação de atrever-se; ousadia; petulância; insolência; arrojo.
- Imprudência,s.f. Inconveniência, loucura.
- Precipitação, s.f. Ato ou efeito de precipitar ou de se precipitar; pressa irrefletida; irreflexão.

Já por outro :
- Valoroso, adj. Que tem valor; ativo; forte; enérgico; destemido.
- Valente, adj. 2 gên. Que tem valentia; valor; força; intrépido; enérgico; rijo; resistente; s.m. homem esforçado ou corajoso; paladino; campeão.
E sem esquecer as confusões mais primárias e infelizmente muito freqüentes entre: mais (quantidade) e mas (porém); sob (em baixo de) e sobre (em cima de); e a mais recente absorver (captar) e absolver (perdoar).

Cá entre nós , vamos aceitar que: as pessoas (individualmente) podem ser inteligentes e generosas, mas a massa (o aglomerado indistinto de pessoas) tende a ser irracional e cruel. Portanto caros “blogueiros” e demais “escrevinhadores” neófitos e não vacinados: nada de precipitação, nem imprudências! E atrevimentos só em doses ínfimas e pouco freqüentes!

Aos Blogueiros – e afins – de nível avançado e que já passaram da fase do dicionário comum e da enciclopédia é recomendado um Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (ou de outra qualquer que lhes seja familiar). Trata-se de remédio eficaz contra as mutações do vírus além de amenizar os efeitos sintomáticos da SVC adquirida.

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